Tão complexo doar-se.
A interpretação alheia nos deixa incapazes de acertar.
As palavras são ditas, mas têm que ser ditas singularmente.
Têm que ser ditas para o coração,
e corações anestesiados precisam de impacto, de fortes emoções.
Gosto do simples, e não me sinto a vontade em ter que impressionar.
Sinto falta da época dos sorrisos sem malícia,
da época em que só ouvíamos um "eu te amo" quando se amava de verdade.
E de quando, raramente, as palavras tinham duplo sentido.
De quando não precisávamos ter que provar, dizer era o bastante.
Me cansa essa disputa pela razão.
Gosto quando fico a sós com a música, ela fala comigo e eu compreendo,
respondo ao autor em pensamento, e fica assim, por isso mesmo.
Me encontro muito mais nas velhas canções, meus heróis já se foram,
e suas artes os imortalizaram em mim.
Ser feliz genuinamente ainda me alcança, e eu ainda acredito em fada dos dentes,
aquela que, hoje, me dizem não existir.
Tenho pena de quem não sonha,
de quem não viaja em cumplicidade com o amor de Deus.
E Deus é o primeiro que amo, sinto e vejo,
e se intensifica na proporção em que acredito.
Sinto sem tocar.
Escuto olhares
( e assim as palavras me são ditas claramente
tanto quanto as que são ditas pela boca).
Sinto o perfume das flores apenas olhando suas cores,
e em cada tom, no degradê de suas pétalas,
inalo a beleza de um diferente e delicioso aroma.
As estrelas, como as de um desenho de criança,
brilham para mim, e me arrancam sorrisos.
Virei gente grande, e às vezes choro quando penso nisso.
Mas ainda vivo a criança que existe em mim
através das inacreditáveis travessuras
das lindas pessoas que nasceram de mim.
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